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sábado, 26 de junho de 2010

História de Santa Cruz do Rio Pardo

As origens do primitivo bairro de “Santa Cruz” assentam-se na criação de uma sesmaria concedida a Antunes Cardia, em 1818, por D. João VI, a que daria origem ao povoamento de Lençóis Paulista. Daquela Vila, conhecida como “Boca do Sertão”, partiriam, por volta de 1850, JOSÉ THEODORO DE SOUZA, e mais tarde, JOAQUIM MANUEL DE ANDRADE e MANOEL FRANCISCO SOARES, os primeiros sertanistas mineiros, desbravadores do Sertão do Paranapanema, colonizadores do distante bairro de Santa Cruz, habitado pelos temíveis índios “coroados”.
Uma grande cruz plantada às margens de um pardacento rio, iluminada, à noite, com tochas e velas, para espantar os índios, daria origem ao nome do nascente lugarejo e futura cidade: SANTA CRUZ DO RIO PARDO.
Daquela época em diante, o povoado traçaria um itinerário de lutas e conquistas, tornando-se Distrito em 1872, Município em 1876, Comarca em 1884 e, finalmente, Cidade em 1906.
Da economia pioneira de plantação de milho e cereais, culturas primitivas destinadas à subsistência própria, a então Vila de Santa Cruz do Rio Pardo optou pela criação e comercialização de suínos e gado bovino, dedicando-se, em seguida, ao plantio de café, algodão e alfafa.
Nos primeiros anos do século transformara-se em grande exportadora de café, tendo a Estrada de Ferro Sorocabana como sua principal artéria de vitalidade econômica e, na década de 40, Santa Cruz do Rio Pardo tornar-se-ia a maior produtora de alfafa do Estado de São Paulo.
A Proclamação da República em 1889 exercerá decisiva influência na formação administrativa e política da futura cidade, com significativas ingerências do Partido Republicano Paulista e de seus “coronéis”, entre eles, o famigerado Coronel Antônio Evangelista, o Tonico Lista, acusado de tocaias e assassinatos. O coronel ascendera-se politicamente, tendo sido Delegado de Polícia, Presidente da Câmara e Prefeito, além de fazendeiro bem-sucedido e incontestável líder. Processado por diversos crimes, fora defendido por amigos, como Altino Arantes e Júlio Prestes, famosos advogados paulistanos. Seu assassinato, ocorrido em 8 de julho de 1922, marcará o declínio do poder local dos “coronéis” e a decadência da agremiação política comprometida com os ideais republicanos.
As denominações de ruas e praças de Santa Cruz do Rio Pardo testemunham as influências republicanas dos primeiros anos do século XX: rua Eusébio de Queiroz, rua Saldanha Marinho, rua Euclides da Cunha, rua Conselheiro Antônio Prado, rua Conselheiro Dantas, Praça Rui Barbosa, praça da República e outras.
A comunidade santa-cruzense vivera nas últimas décadas do século XIX sob as nuvens das arbitrariedades praticadas pelas autoridades policiais e pelos abomináveis juizes leigos.
No alvorecer do século XX, a brisa da “Bellle Époque” traz alento ao progresso da cidade: substitui-se a anacrônica iluminação pública de gás acetileno pela luz elétrica; cria-se a telefonia urbana; estabelece-se o rigoroso “Código Municipal”; edifica-se a primeira escola pública; intensifica-se a vida religiosa com a ereção de um novo templo; assentam-se os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana.
O advento da ferrovia, em 1908, intensificou o febril cultivo do café, desenhando inúmeros cafezais sobre seu vasto território. Os benefícios da exportação desse produto acelerariam a formação da burguesia local, consolidando a economia das grandes fazendas e a intensa participação dos imigrantes italianos.
Não obstante o bafejo do progresso, a cidade conservava o apelido de “Sertão”, consagrado por seu primeiro jornal, o “Correio do Sertão”, que circulara entre os anos de 1902 e 1903.
Essa condição primitiva e sertaneja favorecia os desmandos praticados em nome da posse de terras, demandas julgadas comumente de maneira arbitrária. A violência era assanhada pelas querelas políticas defendidas com ardor pelos correligionários do Partido Republicano e por seus adversários do Partido Democrático.
Em muitas ocasiões, os ânimos estiveram tão exaltados a ponto de provocarem embates sangüinolentos nas ruas da cidade.
Não obstante a febre política de momentos cruciais da história brasileira, cresciam as dramáticas carências sociais em Santa Cruz do Rio Pardo.A história da cidade registraria altos índices de mortalidade infantil, disseminação da lepra e de outras doenças, o que era agravado pelas precárias condições sanitárias oferecidas nas primeiras décadas do século. A inexistência de atendimento hospitalar provocaria flagelos como o da “Gripe Espanhola”, entre os anos de 1918 e 1919, epidemia mundial que lançara tentáculos sobre a frágil Santa Cruz do Rio Pardo, ceifando muitas de suas frágeis vidas. A dor de uma cidade inspiraria a lenta e conturbada construção de sua Santa Casa de Misericórdia, a partir dos anos 30.
A imprensa santa-cruzense tivera suas origens em 1902, tendo sido porta-voz dos interesses de grupos políticos antagônicos, concentrando-se na luta pela manutenção dos privilégios. A partir do pioneirismo do “Correio do Sertão”, novos periódicos intensificariam a dicotomia política e social do burgo, demonstrando, nas entrelinhas modeladas em estilo parnasiano, o desejo de inserção da cidade nas novidades do século XX.
No início do novo século, o Fórum local recebe o jovem promotor Valdomiro Silveira que, no contato diário com os mixuangos, que choramingavam suas querelas forenses, arquitetará o novo regionalismo literário brasileiro, através das consagradas obras como, “Os Caboclos”, “Nas Serras e nas Furnas”, “Mixuangos” e “Leréias”.

Ligada umbilicalmente à cultura cafeeira, Santa Cruz do Rio Pardo conhecerá, no entanto, momentos de letargia econômica provocados pela crise de 1929. Extintos pela Revolução de 30, os velhos partidos políticos ressurgem sob as bandeiras da UDN e do PSD, selando uma profunda e dolorosa divisão política e social. Os correligionários de cada facção abrigavam-se em clubes recreativos próprios, criando significantes para a explícita divisão da sociedade. A cor vermelha identificava os partidários do PSD, e a cor azul, os da UDN.

A partir da década de 40, apesar das dissenções políticas, dimensionava-se a vida social acionada pela emulação. A cidade ganha uma emissora de rádio, porta-voz de uma tendência; os clubes recreativos promovem bailes cinematográficos; a cidade passa por remodelação, desfazendo-se da velha fisionomia provinciana. Santa Cruz do Rio Pardo seria uma das primeiras cidades do interior a receber os benefícios do asfalto. São realizadas obras de rede de esgoto, saneamento básico e arborização. O “velho burgo” transforma-se num importante centro comercial e estudantil, fazendo convergir para si grande número de pessoas em busca de negócios e escolaridade. Alguns de seus políticos escalam destacadas posições no cenário estadual como deputados junto à Assembléia Legislativa.
Com a criação do Aero-Clube, preparava-se o campo para os vôos semanais da VASP, momentos de contínua interação social e política com os grandes centros, notadamente com a cidade de São Paulo, a capital do Estado.
Os anos 50 carregavam o ardor dos “Anos Dourados”, que seriam vividos com intensidade pela juventude local, através de iniciativas de caráter cultural. Esses elementos temperavam o banquete dos autênticos “Anos Dourados” da década de 60, ocasião em que Santa Cruz do Rio Pardo procuraria insistentemente inserir-se no contexto da modernidade brasileira por influência da televisão e dos demais meios de comunicação, cultuando os sucessos artísticos, sociais e políticos amplamente divulgados pelas programações radiofônicas.
O prédio do cinema, inaugurado em 1948, conhece seu apogeu ao receber em seu suntuoso edifício, o conhecido “Palácio da Sorocabana”, multidões ávidas pelos sonhos. Na década de 80 esse prédio será adquirido pela Municipalidade e batizado como Palácio da Cultura "Umberto Magnani Netto.
Os clubes recreativos, redutos de facções políticas, digladiam-se com as sutis armas dos monumentais bailes. Santa Cruz do Rio Pardo conscientizava-se de seu progresso e de sua liderança regional, criando seu brasão de armas e sua bandeira, símbolos da pujança conquistada até então.
Os anos 50 traziam para o Brasil as novidades da industrialização, provocando grandes movimentos migratórios. A agricultura, liderada pela cultura cafeeira, entra em decadência.A Estação da Estrada de Ferro Sorocabana é desativada na década de 60..Esse foi o marco de um período crítico originado pelo confronto entre o fascínio de um processo de industrialização e a vocação agrária do Município.

Com pouco mais de cem anos de existência,embora fragilizada pelas condições da vida nacional, Santa Cruz do Rio Pardo busca integrar-se no século XXI, o que é uma epopéia apenas possível se, em cada santa-cruzense, coexistir a chama crepitante de amor às tradições e a vontade férrea de fazer sua CIDADE reencontrar-se com seus destinos.
Fonte: livro "Santa Cruz do Rio Pardo: Memórias"
Autor: Magali Junqueira

3 comentários:

  1. Belo trabalho :)
    ps: as fotos enganam bastante, quem vê pensa que é tudo isso mesmo hahaha

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  2. Que lindo texto. Fiquei muito feliz em conhecer um pouco da história da cidade de meus avós e bisavós. Como consigo o livro? email adrianaabelhao@uol.com.br

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